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A dimensão e possibilidades do trabalho doado – o caso brasileiro.


A dimensão e possibilidades do trabalho doado – o caso brasileiro.


“Afinal, quem trabalha de fato, os milhões de manifestantes por todo o Brasil, gratuitamente, ou os políticos em Brasília, remunerados?”
Movimento Acorda Brasil
Movimento Acorda Brasil
Trabalho doado no Brasil.
Um belo artigo “O impacto do voluntariado” de Bernardo Kliksberg, diretor do BID, publicado há dez anos, já chamava a atenção para o trabalho voluntário e suas ocorrências na América do Sul. Cita exemplos concretos que impressionam pela capacidade de solidariedade inata ao ser humano: “Em meio à gravíssima crise argentina, Margarida Barrientos, que vive numa favela e tem 12 filhos, criou um restaurante popular que alimenta diariamente 1.600 crianças”. “Em São Paulo, há o restaurante popular Tem Yad(“estender a mão”) fundado pelo rabino David Witman, que fornece almoço a mais de 300 pessoas diariamente, com dezenas de voluntários”.
Tais experiências só fizeram se expandir de lá para cá. A Associação Brasileira de Organizações não Governamentais – ABONG, que é constituída por cerca de 288 organizações que atuam nas mais diferentes áreas mas sempre com foco na defesa dos direitos e bens comuns, publicou em dezembro de 2012 números e dados das fundações e associações privadas sem fins lucrativos no brasil relativos à 2010, mostrando que naquele ano já havia 290,7 mil Fundações Privadas e Associações sem Fins Lucrativos no Brasil.
RITS, rede de informações para o terceiro setor, A Comunitas e a Revista do Terceiro Setor, RETS, são também boas referências para se aprofundar o conhecimento do que ocorre no setor.
Alguns exemplos ajudam a visualizar a diversidade de atuação destas organizações. A Pastoral da Criançacom mais de 150.000 voluntários atuando em prol das crianças carentes, o Movimento dos sem Terra, a Ação do IBASE – Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas, o Centro de Ajuda para a Dependência Química, o Centro de Valorização da Vida, o Artesanato Solidário e os Voluntários do Sangue são exemplos de empreendimentos no Brasil.
Também, o Fórum Social Mundial é uma demonstração marcante da importância que assumiram as ações voltadas para a luta pela melhoria social e econômica das camadas carentes da população. Criado em 2001, com os 3 primeiros encontros anuais realizados em Porto Alegre, diversificou-se e teve seu primeiro encontro fora do Brasil em 2004 na Índia quando cerca de 80.000 pessoas atuaram durante todo o evento, representando 2.660 organizações de 132 países. Ao todo participaram do evento cerca de 150.000 pessoas. E de lá para cá vem ganhando ainda mais importância, além de servir de contraponto ao Fórum Econômico Mundial.
Mas, apesar de tudo isto, o estudo que acaba de ser concluído pelo “Center for Civil Society Studies” com dados de 16 países mostra que o voluntariado ainda é relativamente acanhado no Brasil, não sendo portanto um bom indicador para se avaliar a extensão do trabalho doado por aqui.
Vou, portanto, por outro caminho, adotando um método relativamente simples e que consiste em estimar o seu potencial pela diferença entre a capacidade produtiva da população e a parcela remunerada da chamada população economicamente ativa – PEA.
Os resultados apresentados a seguir são baseados em dados publicados pelo IBGE. Um resumo destes dados e das respectivas fontes específicas estão em: Resumo dos dados e fontes.
A população brasileira, hoje, é de cerca de 194 milhões de pessoas. Destas, compõe a População Economicamente Ativa (pessoas de 10 a 65 anos de idade que se encontram ocupadas ou desempregadas) cerca de 105 milhões de pessoas, divididas nos seguintes grupos (em milhões de pessoas):
  • Empregados com carteira assinada no setor privado:_____ 48,8
  • Empregados sem carteira assinada no setor privado:_____ 10,5
  • Trabalhadores domésticos com carteira assinada:________  2,6
  • Trabalhadores domésticos sem carteira assinada:________  4,0
  • Funcionários públicos estatutários e militares:___________ 7,7
  • Empregados no setor público:______________________   3,2
  • Empregados por conta própria:_____________________ 17,7
  • Empregadores:__________________________________  4,5
  • Desempregados (critério IBGE):_____________________6,1
Mesmo sem entrar, neste momento, no mérito do sub-emprego nem do critério para incluir alguém na categoria de desempregado (estar ativamente procurando emprego na semana da pesquisa) se vê que 95,1 milhões de pessoas não tem atividade remunerada, perto de 50% da população.
Compõe a População em Idade Ativa (PIA), pelo critério IBGE (pessoas entre 10 e 65 anos) cerca de 150 milhões de pessoas, ou, se ampliar-se a idade limite para 80 anos (critério mais razoável), cerca de 161,7 milhões de pessoas.
Ou seja, estão em idade ativa mas sem desenvolver atividade remunerada entre 51,1 e 62,8 milhões de pessoas. Algo entre 46,2% e 63,5% dos que tem atividade remunerada. Em outras palavras, cerca de 30% dos brasileiros já desenvolvem ou tem potencial para o trabalho sem fins remunerativos. Isto sem falar daqueles que obtêm remuneração e, ao mesmo tempo, se dedicam a outras atividades, e que não são poucos.
Em resumo, pode-se concluir com segurança que, no Brasil de hoje, já existe uma equivalência numérica entre o trabalho remunerado e o não remunerado. A diferença é que a tendência declinante do primeiro leva ao crescimento contínuo dos segundo.
Impressionante, não é?
E, é sempre bom lembrar o quão concreto é a existência destas milhões de pessoas que doam seu trabalho. É devido a elas que são expressivos o trabalho voluntário, a criação digital, o trabalho doméstico, a auto-subsistência, o investimento pessoal, a criação artística, cultural ou científica, as atividades sociais e as amadorísticas.
Termino sugerindo que você participe da pesquisa relacionada ao tema, no post que se segue, e que utilize preferencialmente a central de comentários para as suas críticas, sugestões e observações.
http://anovaeconomia.com/2013/06/26/a-dimensao-e-possibilidades-do-trabalho-doado-o-caso-brasileiro/

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