Pular para o conteúdo principal

É tempo de fechar a porta do inferno - Clovis Rossi



 FOLHA DE S. PAULO, QUINTA 17 DE JANEIRO DE 2013, P. A20, recebido das listas José Eli da Veiga - USP



É tempo de fechar a porta do inferno
CLÓVIS ROSSI 

O mundo empresarial começa a coincidir com os ambientalistas, ao soar o alarme sobre o clima 

Se houvesse no mundo meia dúzia de líderes de verdade, a emergência ambiental que se está dando em cidades chinesas faria soar todos os alarmes: o mundo todo está vivendo uma situação de mudança climática que anuncia uma catástrofe em algum momento futuro. 
Sei que esse tipo de alerta costuma cair no vazio quando feito por entidades ambientalistas, desprezadas como ecochatas. 
Mas, agora, as sirenes estão sendo acionadas pelo empresariado, exatamente aquele que hesita em pagar os custos da adaptação da economia a modos de produção mais amigáveis ao ambiente. 
O mais recente deles está no relatório "O Mundo em 2050" que uma portentosa consultoria, a PwC (PricewaterhouseCoopers), acaba de divulgar. Como se sabe, as Nações Unidas têm se esforçado, inutilmente, para que sejam adotadas medidas para que o aumento de temperatura global não passe de 2 graus, sob pena de ocorrer um apocalipse ambiental. 
Pois bem, a PwC diz que, mantidas as coisas como estão, suas previsões para o crescimento da economia levariam a aumento de temperatura de 6 graus ou mais no longo prazo, três vezes além do aumento que abriria as portas do inferno. 
Outro relatório oriundo do mundo empresarial, o dos Riscos Globais 2013, encomendado pelo Fórum Econômico Mundial, vai na mesma linha: "após um ano de medo causado por fenômenos climáticos extremos, do furacão Sandy às inundações na China, os pesquisados consideraram as crescentes emissões de gases do efeito estufa como o terceiro maior risco global, ao passo que o fracasso da adaptação à mudança climática é visto como o risco ambiental que terá o maior impacto na próxima década". 
Não é difícil entender por que o mundo dos negócios soa o alarme: é o custo dos desastres, como reconhece Axel Lehmann, chefe do Escritório de Risco do grupo segurador Zurich, citado no relatório do Fórum. "Com o crescente custo de eventos como o furacão Sandy, as grandes ameaças às nações-ilhas e 
às comunidades costeiras, e com nenhuma solução para a emissão de gases do efeito estufa, está escrito nas paredes que é tempo para agir", diz Lehmann. 
Levantamento de outra seguradora, a Munich Re, mostra que o custo global de catástrofes naturais relacionadas ao clima foi, no ano passado, de US$ 160 bilhões (R$ 325 bilhões). 
Não custa aplicar o bom senso demonstrado por Peter Höppe, chefe de Pesquisas de Risco da Munich Re: "Numerosos estudos apontam um aumento de períodos de seca no verão na Costa Leste dos EUA no futuro e uma crescente possibilidade de severos ciclones ao longo da Costa Leste dos Estados Unidos no longo prazo. O aumento do nível do mar causado pela mudança climática aumentará ainda mais o risco de uma escalada de tempestades. E, sem perspectiva de progressos nas negociações sobre mudança climática, a adaptação para tais riscos, usando medidas protetoras adequadas, é absolutamente essencial". 
Atenção, não é o Greenpeace falando. 

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Agroecología Bases teóricas para el diseño y manejo de agroecosistemas sustentables Editores: Sarandón, Santiago Javier | Flores, Claudia Cecilia

Agroecología Bases teóricas para el diseño y manejo de agroecosistemas sustentables Editores:  Sarandón, Santiago Javier |  Flores, Claudia Cecilia 2014 Tipo de documento:   Libro Resumo El libro Agroecología y Desarrollo Sustentable, editado por Santiago J. Sarandon y Claudia Cecilia Flores de La Facultad de Ciencias Agrarias y Forestales de la UNLP, viene a llenar un gran vacío en nuestra literatura agroecológica al entregarnos un libro adaptado a las necesidades del currículo agronómico que se desarrolla en la mayoría de las Universidades e Instituciones de Educación Agropecuaria en América Latina. El libro se suma a la escuela de pensamiento que define a la Agroecología como la aplicación de conceptos y principios ecológicos en el diseño y gestión de agroecosistemas sostenibles. La Agroecología aprovecha los procesos naturales de las interacciones que se producen en la finca con el fin de reducir el uso de insumos externos y mejorar la eficiencia biol...

Presença de Glifosato em Leite Materno

Testes realizados em mães estadunidenses mostraram a presença do herbicida glifosato, comercializado pela Monsanto sob a marca  Roundup , no leite materno. Os testes foram encomendados pelas ONGs  Moms Across America  e  Sustainable Pulse  e mostraram altos níveis do veneno em 3 das 10 amostras coletadas (76 ug/l, 99 ug/l and 166 ug/l): de 760 a 1.600 vezes maiores que o limite máximo permitido para a água potável na Europa. Foram também analisadas amostras de urina e de água potável nos EUA para detecção de glifosato. Os níveis do herbicida encontrados nas amostras de urina foram mais de 10 vezes maiores que aqueles encontrados em testes similares realizados na Europa em 2013 pela ONG Friends of the Earth . A presença do glifosato também foi detectada em 13 das 21 amostras de água potável, algumas em níveis superiores ao limite permitido na Europa. Zen Honeycutt, fundadora e diretora da ONG  Moms Across America , informou que “as mães q...

Agrotóxicos, conhecimento científico e popular

Continuando as informações sobre agrotóxico e saúde humana, excelentes estudos disponibilizado pelo Ecodebate. ‘Agrotóxicos, conhecimento científico e popular: construindo a ecologia de saberes’ já está disponível na internet Publicado em janeiro 18, 2013 por  HC Terceira parte do dossiê Abrasco já está disponível na internet ‘Agrotóxicos, conhecimento científico e popular: construindo a ecologia de saberes’ é o título da última parte do documento, lançado durante o Abrascão Dossiê Parte 1 – Agrotóxicos, segurança alimentar e nutricional e saúde Dossiê Parte 2 – Agrotóxicos, saúde, ambiente e sustentabilidade Dossiê Parte 3 – Agrotóxicos, conhecimento científico e popular: construindo a ecologia de saberes Nos últimos três anos o Brasil vem ocupando o lugar de maior consumidor de agrotóxicos no mundo. Os impactos à saúde pública são amplos porque atingem vastos territórios e envolvem diferentes grupos populacionais como trabalhadores em di...